“Com esta proposta de revisão pontual da Constituição pretende-se preservar a estabilidade dos seus princípios fundamentais, adaptar algumas das suas normas à realidade vigente, mantendo-a ajustada ao contexto político, social e económico, clarificar os mecanismos de fiscalização política e melhorar o relacionamento entre os órgãos de soberania, bem como corrigir algumas insuficiências”, destacou João Lourenço, no arranque dos trabalhos da segunda sessão ordinária do Conselho de Ministros, em Luanda.
“Depois de uma profunda reflexão e um estudo apurado, mas sobretudo da experiência resultante da sua aplicação nos termos do artigo 233 da Constituição da República Angolana (CRA), decidi tomar a iniciativa de revisão da Constituição, cujos termos serão vistos na presente sessão do Conselhos de Ministros e posteriormente remetidos à Assembleia Nacional para os devidos efeitos”, indicou o chefe de Estado.
João Lourenço justificou as alterações com a necessidade de “preservar a estabilidade nacional e os valores” do Estado de Direito democrático. Segundo o Presidente, será feita uma revisão pontual que incide na clarificação do modelo de relacionamento institucional entre o Presidente da República enquanto titular do poder executivo e a Assembleia Nacional no que se refere a fiscalização política; consagração do direito de voto aos cidadãos angolanos residentes no exterior.
“Uma melhor Constituição”
As alterações visam ainda a afirmação constitucional do Banco Nacional de Angola como entidade administrativa independente do poder executivo; eliminação do princípio do gradualismo como princípio constitucional condutor do processo de institucionalização efetiva das autarquias locais; constitucionalização de um período fixo para realização de eleições gerais entre outras matérias.
João Lourenço acrescentou que serão também apresentadas propostas de inclusão de novas matérias e clarificados alguns aspetos da Constituição.
Para o chefe do executivo angolano, pretende-se com estas alterações “ter uma melhor Constituição para que continue a ser o principal instrumento de estruturação da sociedade angolana, capaz de congregar os angolanos em torno de um projeto comum de sociedade de paz, justiça e progresso social”.
Cafunfo: Polícias serão responsabilizados
O Presidente angolano falou hoje, pela primeira vez, sobre os incidentes em Cafunfoe garantiu que serão responsabilizados os polícias que terão “praticado atos considerados desumanos”. Um mês depois dos acontecimentos, que, segundo a versão oficial, causaram seis mortos durante uma alegada invasão de uma esquadra, mas que testemunhas locais e organizações da sociedade civil descreveram como uma tentativa de manifestação em que foram mortas mais de 20 pessoas, João Lourenço disse que se aguardam ainda as conclusões do inquérito em curso.
Segundo o chefe de Estado, o país foi surpreendido no dia 30 de janeiro com um “ato de rebelião armada na vila de Cafunfo, na Lunda Norte, protagonizado por cidadãos nacionais e estrangeiros que atacaram com armas uma esquadra policial”, resultando em consequência da reação das forcas policias a morte de seis insurgentes e alguns feridos “que foram prontamente assistidos nalgumas unidades hospitalares”.
O Presidente lamentou a perda de vidas humanas “19 anos depois do calar definitivo das armas no país e do restabelecimento da paz entre os angolanos”, mas condenou “energicamente” a ação, desencorajando a prática de todos os atos que atentam contra a segurança e a soberania nacional, contra a Constituição e a lei como a tentativa de divisão e desmembramento ou separação de parcelas do território nacional.